Brilho deslumbrante
Aos pulos, aos
gritos, a correr, cheia de felicidade e alegria, Ana precipitou-se
sobre a família, envolveu o pai, a mãe e a irmã com os seus
braços. Quase nem conseguia falar!
Todos ficaram
absolutamente intrigados com os motivos de tal excitação, mas ao
mesmo tempo imensamente tranquilizados. Há já três dias que não
sabiam da Ana, saida de casa uma manhã bem cedinho, despedindo-se
de todos, dizendo que ia partir à descoberta e que não esperassem
por ela para almoçar.
Na verdade nem
almoço, nem jantar, nem almoços nem jantares dos dois dias
seguintes. Ana não dava sinal de vida, desde o momento em que, tão
estranhamente,se tinha despedido deles.
Saira da aldeia por
caminhos de montanha, no meio de matos e silvas, apenas com uma
mochila às costas. Não disse onde ia nem ao que ia. À descoberta?
Mas à descoberta de quê?
Em Messejana não se
falava de outra coisa. A partida de Ana era conversa no café central
da vila, nos mercados,no jardim.
-Mas onde foste,
filha? E porque voltas assim tão alegre e feliz? - perguntou-lhe
finalmente, o pai.
E ela contou:
-Pai, estamos
ricos!!! Encontrei ouro!
E não se sabe o que
brilhava mais, se os olhos da rapariga, se as pedritas que tinha na
mão.
É ouro, pai! É
ouro. E sei onde podemos ir buscar muito mais!
Todos se puseram a
observar com a maior atenção o ouro que Ana tinha consigo. E,
naquele dia, o jantar foi de festa! Compraram do bom e do melhor, e
celebraram em família, o futuro promissor que se avizinhava, a
partir daquele dia e daquela hora.
Logo no dia
seguinte, pai, mãe e irmãs trataram de comprar tudo o necessário
para irem “à caça” de mais ouro. Não pouparam dinheiro nem
esforço. E depois de verificarem que tinham tudo, mesmo tudo,
descansaram de forma a estarem prontos para a jornada de trabalho que
os esperava.
Dormida uma noite de
sono leve e intranquilo, tal era a excitação em que todos eles
estavam, atrelaram a mula à carroça e lá foram os três, caminhos
fora, seguindo as indicações da Ana.
Chegados ao local, foi o tempo
de montar a tenda, para logo começarem os trabalhos de quebrar pedra
e recolher o precioso minério.
Nisto estiveram três
dias e três noites mal dormidas.
Agora a carroça já
não poderia aguentar mais peso. Estavam ricos. Brilhavam de
contentamento e a carroça brilhava de pedras que valiam vidas!
Esperaram pelo cair
da noite para fazerem noava viagem , não de volta a
Messejana, mas sim para Aljustrel. Pois aí havia uma loja que
comprava ouro.
Estavam apenas a 17
km de ficarem ricos!!!
Foi a noite toda de
viagem. Mas, às 9 horas da manhã do dia da fortuna, estavam eles já
em Aljustrel, à espera que a porta da loja abrisse!
E… abriu.
E eles entraram.
Mostraram a carga
valiosa que levavam, dizendo: “Olhe só para este brilho! E é
muito! Pese, pese e diga quanto nos dá por este carrego de ouro que
lhe trazemos!”
E o brilho do
carrego confundia-se com o brilho que transbordava dos olhos dos
trẽs.
Com tranquilidade o
comprador observou o que lhe traziam para comprar. Depois,
convidou-os a entrar e a sentarem-se, enquanto lhes serviu um chá e
umas bolachinhas.
Finalmente falou:
-Meus amigos, o que
me impressionou não foi o brilho do minério que me trazeis.
Porque não é o
brilho do ouro.
O que me trazeis
são vulgares pirites. Não valem nada.
Mas uma coisa
realmente me impressionou: o deslumbramento no vosso olhar!
Porém, brilho não
é deslumbramento e deslumbramentonão não cria brilho…. muito
menos o brilho do verdadeiro ouro.
O vosso
deslumbramento é, na verdade, impagável.
Portanto, por ele nada vos
posso eu pagar..
Sairam então da
loja, de mãos a abanar, ainda sem terem percebido bem o que lhes
tinha contecido.
Despejaram as
pirites mesmo ali no meio da rua e voltaram para Messejana.
Tranquilamente.
Serenamente.
Porque o
deslumbramento já tinha passado.
Comentários
Enviar um comentário